Este texto foi publicado originalmente na Revista Inspira, edição #3, outubro de 2019.
Com que frequência você vê lixo jogado na rua ou descartado de forma incorreta?
Pensando em dar passos em direção à sustentabilidade e à preservação ambiental, um novo esporte alia corrida e coleta de lixo.
Conheça o plogging!
Camila estava se recuperando de uma lesão e, por conta disso, não podia correr com a mesma intensidade de antes. Assim, resolveu reduzir o ritmo.
Ao mesmo tempo que a velocidade de passadas diminuiu, a percepção do ambiente ao seu redor aumentou.
O que antes passava por um relance no olhar, saltou aos olhos: lixos no percurso da Avenida Sumaré, na região oeste da cidade de São Paulo.
Com o incômodo causado pela sujeira no local, dois acessórios foram adicionados às corridas seguintes: sacos de lixo e luvas – por onde passava, Camila recolhia os resíduos.
Essa cena aconteceu com a engenheira mecânica Camila Alvarenga, logo após se mudar para São Paulo, em março deste 2019.
“Minha iniciativa se deu a partir do meu inconformismo com o desrespeito das pessoas com a cidade e o meio ambiente”, conta.
Algum tempo depois, enquanto corria e parava para recolher os resíduos que encontrava pelo percurso, um grupo de ciclistas foi em sua direção e a abraçou.
“Não entendi naquele momento, pois como cidadã estava fazendo minha obrigação. Fui pra casa reflexiva pensando que se as pessoas estavam me parabenizando, havia algo de errado”, relata.
Então, Camila teve a ideia de mobilizar mais pessoas para fazer acompanhar os seus passos. Ao pesquisar na internet sobre o assunto, percebeu que sua ação, aliando corrida e coleta de lixo, era uma nova prática esportiva chamada Plogging.
Origem do Plogging
Plogging é a junção da palavra sueca Plocka upp (recolher) e Jogging (correr).
Essa nova prática esportiva teve início em 2016, quando o ambientalista Erik Ahlström se mudou para Estocolmo, na Suécia.
Assim como Camila, Erik se incomodou com a quantidade de lixo que havia na natureza local. Foi o ponto de partida para começar a incluir na sua rotina de corrida paradas para coletar o lixo que encontrava pelo caminho.
Para atrair mais pessoas, o ambientalista criou um grupo no Facebook. Hoje, três anos depois, com a repercussão dada ao movimento, a prática não só conquistou a região escandinava, como também conseguiu adeptos em vários países.
No Instagram, a hashtag #Plogging já ultrapassa 90 mil publicações e ilustra como a internet pode unir pessoas com a mesma vontade, a de mudar o meio ambiente com pequenos passos.
Movimento em direção à sustentabilidade
Foi também pelas redes socias que Camila decidiu movimentar mais pessoas. Há 8 meses, criou Plogging SP para disseminar a ideia de correr em direção à sustentabilidade e à preservação ambiental.
O Plogging SP foi criado “com a ideologia de praticar um ‘corre sustentável’. Não somos um grupo, e sim um movimento”, esclarece.
E como movimento, a intenção é influenciar as pessoas pelo exemplo: “Todas as vezes que saio para praticar, saio com o propósito de que grandes mudanças acontecem através do exemplo. Eu percebo que as pessoas se sensibilizam com a ação, então de certa forma, eu tenho a certeza que estou plantando uma semente de reflexão. E no final das contas, volto com a sensação de missão cumprida!”, argumenta.
Ao ser perguntada sobre a frequência de encontrar lixo nos locais onde pratica o Plogging, Camila é enfática: “Todas as vezes!”. E completa: “Isso acontece em todas as regiões em que pratico; muitas vezes presencio o ato do descarte. Se eu pudesse, aplicaria uma multa para esse tipo de comportamento”.
Em 2018, na cidade de São Paulo, onde Camila mora, as multas por descarte irregular de lixo triplicaram, em comparação aos dois anos anteriores. No município, quem insiste em não pôr a mão na consciência quanto ao meio ambiente, e descarta irregularmente o lixo, pode ter que colocar a mão no bolso para pagar multa de até R$ 15 mil. A cidade gera, em média, 20 mil toneladas de lixo diariamente.
Com luvas e sacos de lixo, os praticantes do Plogging se deparam com vários tipos de materiais descartados irregularmente – de embalagens plásticas a eletrodomésticos. “Infelizmente, não recolhemos todo tipo de resíduo, pois corremos o risco de contaminação. Nossa vontade é recolher tudo, mas nos limitamos em recolher plásticos, papéis, microlixos (resíduos secos)”, observa.
Durante a coleta, a principal dificuldade é em destinar o lixo. “A falta de ilhas de coleta seletiva é a maior dificuldade. As lixeiras distribuídas pela cidade não comportam a quantidade de resíduo gerado. Dessa forma, as lixeiras atingem sua capacidade rapidamente. Esse fato também contribui para que as pessoas joguem lixo no chão”, argumenta.
Todas as vezes que saio para praticar, saio com o propósito de que grandes mudanças acontecem através do exemplo. Eu percebo que as pessoas se sensibilizam com a ação, então de certa forma, eu tenho a certeza de que estou plantando uma semente de reflexão. E, no final das contas, volto com a sensação de missão cumprida - Camila Alvarenga, criadora do Plogging SP.
Benefícios para além da saúde
Além dos benefícios à saúde ligados à prática da corrida – melhora dos níveis de colesterol, diminuição do estresse, aumento da capacidade cardiorrespiratória –, outro elemento é incluído com o Plogging, que tem efeito não só para a saúde de quem o pratica: a preservação da natureza e do ambiente público – o que beneficia toda a sociedade local. Com a prática, é comum um sentimento de pertencimento e de realização.
“O fato de praticar corrida, parar, agachar e retomar a corrida, potencializa a prática. Percebo que o desgaste físico no final da ação é grande, porém, a sensação de bem-estar e missão cumprida que isso gera, compensa qualquer cansaço. Outro ponto que gosto de enfatizar, é que o Plogging aumenta o nível de foco e concentração, pelo fato de precisarmos ficar atento ao cenário em busca do resíduo”, explica Camila. Segundo aplicativo para smartphone, 30 minutos de Plogging queima 377 calorias.
Quem quiser correr em direção à sustentabilidade e à preservação ambiental, basta se munir, primeiramente, de boa vontade. Inclua também outros acessórios, como tênis, luvas, saco de lixo e garrafa com água.
“Gostaria de convidar as pessoas para participar do Plogging SP. Se você for de outra cidade, mobilize uma ação ou procure uma liderança local. Existem muitos grupos espalhados pelo Brasil que precisam de voluntários. Me coloco à disposição para apoiar grupos e pessoas com vontade de fazer a diferença!”, finaliza Camila.
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