Na mitologia grega, Afrodite era o nome que se dava à energia de beleza, sensibilidade, prazer e união que atravessava a vida - e, por vezes, a criava. Uma experiência tão forte e coletiva como essa recebeu honras de divindade. Era Afrodite, a Deusa do Amor.
Com o tempo, a cultura se desconectou dessa parte do divino, que vive em cada um de nós. A chamaram de “suja, imoral, selvagem, fútil”. E assim ela foi relegada a uma camada profunda do nosso inconsciente até a conexão com essa deusa ser apenas uma lembrança, um lampejo de algo possível, mas indecoroso.
Desenterrá-la é redescobrir em si a energia da Deusa.
Nesta matéria, você vai entender como o mito de Afrodite, a deusa, pode servir como um caminho de autoconhecimento e nos permitir acessar uma camada do inconsciente profundo.
Afrodite e o resgate do humano em nós
“Quem chora é fraco, quem ri demais é bobo, quem odeia é mau e quem ama é mole”. Somos seres emotivos, mas se toda emoção é considerada ruim, como ver vantagens em estar vivo?
Onde foi que buscar prazer virou sinônimo de vadiagem e a beleza virou uma coisa só – que, por sinal, é sempre irrelevante?
Quem falou que se amar é esnobismo? Em que momento acontece o corte que nos proíbe de ver o mundo com os olhos de uma criança?
Quem inventou que o corpo se resume à aparência? Quem disse que a vida acontece apenas do pescoço pra cima?
Quando foi que o trabalho, o carro do ano e as fotos da vida perfeita nas redes sociais se tornaram o ápice do seu erotismo, aquilo que mais te excita e que te move? E o amor? Quando foi que ele começou a ser chamado de cafona, retrógrado e limitante ao invés de um sentimento de transcendência?
Quando foi que você percebeu que tinha deixado de ser humano?
Pode ser que isso tenha acontecido agora mesmo.
Muitas vezes, estamos tão integrados em um roteiro de vida pré-montado, repetindo o dia anterior no dia que se segue, que não paramos para pensar que estamos vivos, e em como isso pode ser maravilhoso!
Parece um paradoxo, mas Afrodite vem lembrar que aquilo que chamamos de mais humano é, na realidade, divino.
A animação Soul, da Pixar, traz uma anedota sobre um peixe que resume bem o que estamos falando. Esse peixe foi até um ancião e disse: "Tô procurando um negócio. Um tal oceano." O ancião respondeu: "O oceano? Você está no oceano." E o peixinho disse: "Isso? Isso aqui é água." "O que eu quero é o oceano."
Estamos tão mergulhados em nos queixar das nossas faltas, que não percebemos que já temos o mais especial.
Os sintomas da falta de Afrodite na sua vida
Todas essas questões que trouxemos no início desta publicação são sintomas do recalcamento coletivo de uma força inerente ao psiquismo humano. Os gregos, a chamaram de Afrodite.
Nesta publicação, "A Deusa Negada", comentamos sobre o que levou essa deusa a ser severamente negada na cultura. Mas o que aconteceu quando Afrodite foi tirada de cena é que uma parte de nós foi junto. Justamente, a parte que nos mostra como é bom estar vivo.
Não é coincidência que, de acordo com um dado de 2019 da Organização Mundial da Saúde, mais de 300 milhões de pessoas no mundo sofrem de depressão, uma doença mental que se expressa muitas vezes na falta de energia e da capacidade de ver sentido e prazer na vida.
A psicoterapeuta Esther Perel escreveu que “recuperar a criatividade e a capacidade de brincar e ter prazer é, em última análise, se ligar novamente com a vida e com a esperança que a alimenta”.
Criatividade, leveza, prazer... Este é o domínio de Afrodite. E ainda acrescentaríamos aí: autonomia, autoestima, liberdade, sexualidade, beleza, espontaneidade e desejo. Pare para refletir: você diria que, coletivamente, a gente tem conseguido lidar bem com esses temas?
As últimas notícias e uma olhada mais profunda ao seu redor e dentro de si vão te mostrar que não.
Tudo isso tem reflexos na vida particular de cada um e raízes firmes no nosso mundo inconsciente e nas crenças que nos constroem.
As consequências da falta de integração de Afrodite, à nível pessoal, são os vícios, o tédio, o vazio existencial, a dependência emocional, o narcisismo, o complexo de inferioridade, a necessidade artificial de agradar, a frigidez e uma vida inautêntica e sem sabor.
É por isso que, enquanto arquétipo do inconsciente, Afrodite se apresenta como um caminho iniciático para a conexão com algo que está nas nossas profundezas, escondido e sem nome, maltratado e incompreendido, mas peça fundamental do quebra-cabeças que é viver em plenitude.
Enquanto não jogarmos luz e acolhermos essa parte ocultada em nós, é como se vivêssemos pela metade, experimentando um catálogo limitado de papéis estabelecidos socialmente, sem nos conhecermos de verdade, sem conseguir ver até onde podemos chegar e sem saber como lidar com a humanidade em nós e nos outros.
O que Afrodite tem a ver com a Psicanálise?
Além disso, Afrodite é tão vital para o conhecimento de si que seus assuntos conversam e se misturam com a própria Psicanálise. Freud dizia que a seu método era, em essência, uma cura pelo amor.
A Psicanálise surge da (re)descoberta do fator sexual no psiquismo. Tem algo mais Afrodite do que isso? Os sintomas físicos da histeria no século XIX reclamaram a atenção diante do corpo e do mundo das emoções. Como um grito de Afrodite debaixo dos escombros. É por isso que Freud se tornou praticamente um pária em seu tempo, com suas investigações sobre a sexualidade infantil e a libido como uma força de vida capaz de nos mover.
O desejo é também é um tema importante para Freud, e para Afrodite.
Para Freud, ele é o que move toda a atividade psíquica do humano. E aí está mais uma ligação entre a deusa e o descobrimento de si mesmo. Simone De Beauvoir lembra que à mulher o desejo e a força de vontade não eram um caminho, se impunha a ela somente a fatalidade da vida.
Na sociedade de hoje, onde hierarquias e conceitos de igualdade vem sendo remexidos e edificados e tudo está em aparente transformação, podemos constatar que esse não é um problema exclusivamente da mulher, mas também do homem e do indivíduo, seja qual for sua identidade de gênero. Fomos perdendo a capacidade de olhar para o nosso desejo e de situá-lo em nossas vidas.
Você conhece alguém que tem quereres genuínos? Quantas pessoas a sua volta estão se movimentando para ter a vida que pediram a deus? Quantas fazem isso sem medo do julgamento e da perda do conforto de ser mais um, “igual a todo mundo”?
O caminho de autoconhecimento da Deusa
Como você pode ter notado, olhar para essas questões típicas do psíquico é resgatar Afrodite, um é sinônimo do outro. A definição da deusa se confunde com a do próprio processo de autoconhecimento e da análise.
Mas mais do que conhecer essas partes de si que vivem trancafiadas em um quarto escuro, o que Afrodite propõe é a transmutação, a alquimia que gera algo novo.
Não um milagre, mas um processo, como uma gestação.
Ela é a deusa da fertilidade. Assim como a célula feminina e a masculina se juntam para formar um ser inédito. No psiquismo, as coisas não somem, mas também se transformam, são ressignificadas e têm sua energia afetiva empregada em outra coisa, e nossa tarefa é guia-las para que essa outra coisa seja algo melhor para nós.
Você está disposta ou disposto a passar por essa iniciação? As perguntas são Afrodite lhe pegando pela mão! Pegue papel e caneta, e escreva suas reflexões a partir das nossas provocações de hoje e se quiser se aprofundar não se esquece de olhar o link na descrição. Vamos lá?!
O Livro de Afrodite é um guia arquetípico de encontro com a divindade de Afrodite que vive em seu interior. Metade livro, metade caderno de escrita terapêutica, contém 233 exercícios e textos reflexivos e instigantes para conversar com o seu inconsciente e fazer a sua Afrodite sair da concha.
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Narração: Amanda Meschiatti e Heryck Sangalli⠀⠀⠀
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📒 O LIVRO DE AFRODITE
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