top of page
Buscar

A jornada da bruxa: uma entrevista com Zelinda Orlandi Hypolito

Este texto foi publicado originalmente na Revista Inspira, edição #4, janeiro de 2020.


Fotos: acervo pessoal Zelinda Orlandi Hypolito


Ela criou a sua própria sociedade alternativa, se casou sob as bênçãos de Chico Xavier, estudou as mais diversas tradições dos mistérios e compartilha um "pouquinho" do que sabe sobre magia nessa entrevista que gentilmente concedeu à Revista Inspira em 2020. Depois de milênios de deturpação e preconceito, Zelinda Orlandi Hypolito humaniza a magia que é inerente a nós. Conheça a história dessa bruxa brasileira!

 

Quem tem medo de bruxas? A gente te convida a repensar tudo o que você aprendeu sobre as bruxas más dos contos de fada e dos filmes da Sessão da Tarde. Nesta edição, entrevistamos uma bruxa de verdade.


A voz calma e o pensamento sereno de Zelinda Orlandi Hypolito – ou Mainha ZZ, como é carinhosamente chamada pelas iniciadas que passam pela sua vivência anual Despertar da Bruxa – nos transmitiram a sensação de que estávamos falando com uma mulher realmente sábia.


Zelinda já é uma personalidade da história do misticismo no Brasil.


Ela nasceu em um lar onde a espiritualidade dava o tom das conversas. Foi criada em uma igreja católica, posteriormente entrou na Eubiose e na Cientologia. Em plenos anos 1920, seu avô possuía um centro espírita, o que atraía olhares estranhos de pessoas que enxergavam com um pouco de preconceito a religião.


Foi de seu avô que herdou a ideia de que “o mundo é mais do que comer e dormir. Existe algo além. Algo que devemos buscar para que a gente se torne alguém que faça a diferença nesta sociedade”.


O médium Chico Xavier foi seu padrinho de casamento e as músicas de Raul Seixas ganharam vida na história de Zelinda. O sonho da sociedade alternativa do cantor, por exemplo, virou realidade com a vontade de Zelinda e Arsenio, seu marido há 50 anos. Em São Tomé das Letras, cidade mística localizada no sul de Minas Gerais, fundaram a Cidade das Estrelas, sítio que também abriga uma escola de mentalismo e bruxaria.


Desse caldeirão de maneiras de observar e interpretar o sagrado presente na vida saiu magia. Magia que, para ela, é um ato de Vontade e de transformação: “nossa possibilidade de transformar algo em algo que nós desejamos”.


Essa entrevista vai te mostrar o bem de cultivar, independente das suas crenças, um lado espiritualista, como se define a própria Zelinda. Enxergar a espiritualidade como uma ferramenta de conexão com nossa fonte inesgotável de força, criatividade e sabedoria.


Como a espiritualidade chegou na sua vida? Desde criança você sentia atração pelo oculto e pelos mistérios da existência?

Eu fui criada num lar espírita. Minha mãe era espírita. Meu pai era ateu, no começo. Então, desde menina, eu escuto todo evangelho espírita. Mamãe fazia isso. A gente ia escondido nas sessões espíritas, porque meu pai não era animado.


Então, sempre me interessei sim. Eu fui levada a me interessar e bateu no meu espírito, bateu no que eu tenho aqui dentro.


Eu comecei no espiritismo, passei por vários, vários, outros lugares e o que mais me moveu sempre é a curiosidade para saber qual é o meu papel neste planetinha. O que é que eu tenho que fazer aqui?


Isso é uma coisa que as vezes nos deixa angustiada, porque...é muito difícil descobrir. Até um dia em que esta angústia me levou a um ponto em que eu olhei para cima numa noite de lua cheia, eu estava fazendo o meu ritualzinho, coloquei minha mão para cima e disse assim: “Está entregue. Não sofro mais. Não tenho mais porque sofrer. O que eu tiver que fazer, manda aí, gente, que eu faço, eu encaro. Mas sofrimento para descobrir o que eu tenho que fazer? Não vou sofrer mais”.


E como num passe de mágica, daquele dia em diante, minha vida virou do avesso. Acho que é só entregando que a gente consegue chegar onde a gente quer.


“O mundo é mais do que comer e dormir. Existe algo além. Algo que devemos buscar para que a gente se torne alguém que faça a diferença nesta sociedade” - Zelinda Orlandi Hypolito.

A seu ver, para que serve uma vida dedicada ao sagrado/às ciências ocultas? O que ela agrega?

Minhas crianças, minha vida inteira foi dedicada a isso. Desde pequena, como eu já falei para vocês, o lado espírita, o lado da eubiose, o lado da psicologia, que existe um lado diferente na psicologia.


Bom, o que ela agrega? Ela agrega à gente uma paz muito grande, uma alegria muito grande, uma vontade de fazer cada vez mais e descobrir cada vez mais.


O universo vai ser sempre um grande mistério. Enquanto eu estiver revestida por esta carne, que eu agradeço, que me dá a oportunidade de experimentar esta experiência matéria, eu estarei limitada a muitas outras experiências. Embora o meu espírito seja livre, e eu possa passear por onde eu quiser, eu ainda tenho cérebro, que nos dá um determinado limite, embora a gente tente o dia inteiro experimentar coisas novas e principalmente utilizar todo aquele mundo de possibilidades que o cérebro nos dá e que ainda não conhecemos.


Então, meus amores, o que agrega? Agrega alegria da busca do que ainda não sabemos. Agrega a paz e traz para nós uma vida muito mais cheia de amor e cheia de bons comportamentos, experiências e nos torna melhor para viver junto aos outros.


Em seu livro o Grimório da Grande Gaya, você afirma que a magia está presente na vida. Pode explicar, primeiro, o que é essa "magia" e onde encontrá-la. E, em um segundo momento, o que te levou a acreditar nela?

Bom, o que é uma magia? Eu entendo magia como um ato de Vontade. É a nossa possibilidade de transformar algo em algo que nós desejamos. Sabe, gente, é interessante, mas quando um padeiro está fazendo pão, ele está fazendo magia. Ele está transformando o trigo, a água, o leite e sei lá mais o que eles usam em um pão.

Isto é magia. Magia é a nossa vida. Nós vivemos diariamente, nós nos transformamos diariamente. Temos a possibilidade de alterar esta nossa realidade da maneira que desejamos, da maneira que conseguimos. E o nosso trabalho aqui é conseguir cada vez mais transformar um mundo difícil em um mundo alegre, feliz e mais fácil de se viver.

Ela está presente na vida porque toda hora estamos transformando, toda hora estamos fazendo coisas novas.


Onde encontrá-la? Primeiramente dentro de nós. Com certeza. Nós temos aqui dentro toda a possibilidade de modificar a nossa vida e modificando a nossa vida modificaremos também as coisas que acontecem no mundo.


O que me levou a acreditar nela? Os resultados em perceber como fica a minha vida antes e depois de compreender o que é essa magia.


"Eu entendo magia como um ato de Vontade. É a nossa possibilidade de transformar algo em algo que nós desejamos" - Zelinda Orlandi Hypolito.


Há um texto em que você fala sobre Ser bruxa. Há também, no livro, menções à mitologia judaico-cristã, à cabala e ao espiritismo. Você se classifica como sendo de alguma dessas religiões? Pode falar um pouco sobre o que pensa dos conceitos de religião e espiritualidade.

Meus queridos, eu acredito que religião seja algo que nos coloca dentro de uma caixinha e nos diz em que acreditar. Eu acredito, sim, em religação. Religação é aquela nossa disposição para entrar no DDI. Eu brincando porque DDI é o nome da música do Raul Seixas, “Discagem Direta Interestelar”, é a nossa ligação com o divino. Eu acredito que a gente sempre deva procurar na fonte.


Todas essas religiões são ótimas porque nos mostram vários caminhos, mas não são os únicos. Estudei sim, catolicismo bastante, espiritismo bastante. Estudei cabala, jamais me diria uma cabalista porque ainda sou muito pequena para isso. Existem mistérios que eu não chego nem perto, mas eu acho fantástico.


Acho que todo tipo de religião nos traz, como um quebra-cabeças, uma peça. Quem sabe um dia quando juntarmos todas as peças, teremos a visão do total do que é realmente este DDI, do que é realmente esta ligação com o divino, do que é realmente o que eles chamam de “ser filho de deus”?


Nós somos uma centelha, uma parte desse grande todo e, por direito, deveríamos acessá-lo, mas ainda estamos tentando. Acredito que a gente consiga.




Você acha que as pessoas temem o termo bruxa?

Minhas crianças, eu acho sim que as pessoas muitas vezes temem o termo “bruxa”, mas hoje em dia está um pouquinho modificado. As criancinhas já se vestem no Halloween, já acham bonito, começou uma mudança na maneira de pensar.


O termo “bruxa” sempre foi temido. Por quê? Primeiro, porque ele é relacionado a coisas mais ocultas, mais difíceis. Mas a bruxa era a parteira da época, era aquela que ajudava as pessoas a se curarem, que conhecia as ervas, que se movimentava na natureza, que tinha uma ligação muito grande com a natureza, o que lhe possibilitava ajudar muitas pessoas.


Depois, o termo foi se tornando cada vez mais complicado. Bruxa em si significa “em cima do muro”: eu não estou aqui nem lá, estou nos dois mundos. Tem um mundo terra, mas eu me conecto com o mundo que está em outra dimensão. Mas, com a Inquisição, a bruxa foi tida como uma pessoa má.



Zelinda conduzindo um ritual mágico


Depois, veio a história da bruxa da Branca de Neve, da maçã etc. e tal. Mas não esqueça que a maçã fez ela acordar. Apesar de colocá-la no sono, depois veio o príncipe. Foi a maçã que deu a possibilidade de que ela acordasse em um outro nível.


Então, para pra pensar um pouquinho em todas essas histórias que contam. Entenda. A bruxa em si é aquela que conhece a natureza, sabe lidar com ela e como sabe pode curar com a natureza.


Eu acho que está perdendo um pouco aquele impacto do medo. Acredito que esteja. Ainda falta um pouco, mas as pessoas já nos veem com uma carinha um pouco diferente, até com vontade de entrar na nossa história.


"Acho que todo tipo de religião nos traz, como um quebra-cabeças, uma peça. Quem sabe um dia quando juntarmos todas as peças, teremos a visão do total" - Zelinda Orlandi Hypolito.


Escute essa entrevista na leitura sonora da Revista Inspira!


Qual é a relação entre o feminino e a bruxaria?

O feminino tem muito uma parte de intuição, tem um lado direito do cérebro, ou seja, ele tem uma facilidade de lidar com o que está oculto. Mas, não que o homem, o lado masculino não tenha, tem sim. É que, às vezes, a nossa própria cultura deixa um pouco de lado. Acha que eles são mais duros, lado esquerdo, lógico, racional. Mas o homem tem toda a possibilidade que a mulher tem. É igual. Só que a mulher tem menos vergonha talvez de expor isso.


Qual é a relação entre o feminino e a bruxa? A gente já nasce bruxa, a gente só tem que lembrar, só isso.


"A bruxa em si é aquela que conhece a natureza, sabe lidar com ela e como sabe pode curar com a natureza" - Zelinda Orlandi Hypolito.

Também em seu livro, são frequentes as analogias com os ciclos e os movimentos da natureza. Pode nos contar um pouco de como você enxerga a relação entre a natureza e o sagrado?

Minhas crianças, a natureza é sagrada. O que é o sagrado? O sagrado é esta ligação divina que temos. O sagrado é saber que somos uma centelha divina. Sagrado significa que estamos aqui com determinado propósito.


Qual a analogia entre os ciclos, os movimentos, a bruxaria e a terra? Meus amores, a mulher é feita de ciclos, o homem também, é que na mulher é mais visível. Nós temos a nossa menstruação que diz: “Desta vez não houve fecundação, quem sabe da próxima?”. Ou seja, nós somos ligadas a este ciclo fisicamente e de uma maneira que podemos observar muito mais facilmente. O homem também, mas se percebe menos do que na mulher.


A natureza é feita de ciclos, nós somos a natureza. Nós somos feitos em ciclos. Os ciclos se repetem na nossa vida. E qual é o nosso grande trabalho? Utilizá-los da melhor forma. E a cada vez que um ciclo volta, que estejamos um pouco diferentes, um pouco melhores.



Zelinda em São Tomé das Letras, MG


O que é a Cidade das Estrelas? Por que motivos você e o Arsenio decidiram materializá-la? Por que em São Thomé das Letras, MG?

Ixi, isso é uma história muito longa que eu vou reduzir bastante, senão nem vai caber aqui.


Eu sempre fui uma pessoa muito pé no chão. Uma capricorniana arretada. Eu sempre pensei de uma maneira muito lógica, muito dedutiva, reta. Até que uma vez, um dia, eu comecei a ter uns pensamentos um pouco diferentes, alguma coisa começou a movimentar-se dentro da minha cabeça e eu me permiti ser um pouco menos racional, lógica e dedutiva como eu sempre fui.


Permiti que algo aparecesse dentro de mim nessa busca. Aconteceu essa ida à São Tomé. São Tomé faz parte das 7 cidades sagradas da Eubiose. E eu sou da Eubiose desde que eu tenho 13, 14 anos de idade, sempre fui de lá, não estou mais frequentando, mas a gente nunca sai. Pela Eubiose, a minha mãe era sacerdotisa de Conceição do Rio Verde e pela linhagem eu deveria estar lá. Mas aconteceram situações diferentes que me levaram a buscar São Tomé das Letras. Eu tive um paciente que já faleceu e ele tinha um namorado que estava em São Tomé das Letras junto com uma tia, que foi uma das pessoas mais inteligentes que eu conheci na minha vida, das mais fantásticas. E esse namorado tinha uma casa em São Tomé das Letras.


Eu já tinha ouvido falar de São Tomé das Letras. Esse namorado do meu paciente, quando vinha a São Paulo, vinha conversar comigo. Eu tenho as pedras ramadas de São Tomé das Letras antes de conhecer São Tomé. Minha mãe já conhecia, porque ela era da Eubiose, e já tinha feito as cidades sagradas. Eu ainda não tinha ido.


Até que, de repente, esse meu paciente morreu e eu disse assim: “Agora eu vou conhecer São Tome das Letras. Não dá mais tempo para não ir”. Então eu fui. E quando eu entrei na cidade alguma coisa dentro de mim me disse assim: “Você está voltando para casa”. E milhões de coisas aconteceram lá, não dá nem tempo de contar agora.


"A natureza é feita de ciclos, nós somos a natureza. Nós somos feitos em ciclos. Os ciclos se repetem na nossa vida. E qual é o nosso grande trabalho? Utilizá-los da melhor forma" - Zelinda Orlandi Hypolito.

Mas minha vida lá foi regida por coincidências incríveis e a Cidade das Estrelas está num lugar onde nós, e muitas pessoas, vimos uma luz muito grande que nos acompanhou, e até deixou bronzeado um dos nossos amigos que estavam junto. No fim, a coincidência nos levou até esse local. E meu marido me fez uma surpresa: foi pra São Tomé e me deu de presente a Cidade das Estrelas.


Por que Cidade das Estrelas? Porque era o nome que Raul [Seixas] tinha dado para um lugar que ele gostaria de ter, e acabou não tendo. Eu realizei o desejo dele e na porta da Cidade das Estrelas tem o São Pedro – quem conhece o Raul conhece a música do São Pedro –, onde eu coloquei a chave da sociedade alternativa. E, nos braços do Raul, o livro que ele tem é o “Livro da Lei”.


O que é o Imagick?

O Imagick é o resultado de todo o nosso trabalho. Meu marido e eu, desde que nos encontramos lá no Chico [Xavier], tínhamos essa parte espiritual muito desenvolvida. A gente buscou sempre, a gente sempre estudou, a gente não negou esforços para isso. A gente ia em qualquer lugar para conhecer alguém que pudesse nos trazer alguma mensagem.



Zelinda e Arsenio ao lado de Chico Xavier, seu padrinho de casamento



E desse conhecimento nós passamos por inúmeros, inúmeros, lugares. E cada um deu uma parte do que nós tínhamos. Ensinou algo a nós.


Desse conhecimento e dessa busca resultou o Imagick. Nós juntamos tudo aquilo que a gente conhecia e que nos fazia sentido. Nós colocamos de uma maneira prática. O meu marido é engenheiro. Eu sou psicóloga, mas uma capricorniana. Então, a gente colocou de uma maneira fácil como desenvolver a nossa mente.


O Imagick é um estudo mentalista. Como nós podemos usar a nossa mente a nosso favor e não contra nós? Como a gente poderá usar essa nossa mente em favor desta nossa humanidade e deste planeta que nos acolheu e nos deu tantas coisas? Algo devemos a ele. Algo devemos passar àqueles que estão, também como nós, dentro deste planeta.


É isso que o Imagick faz: desenvolver a mente para que ela seja algo útil a nós e a todos da nossa comunidade.



"Por que é importante o autoconhecimento? Porque a busca deste ponto de ligação é a busca de acessar tudo o que já temos aqui guardado. E isto é magia. É buscar o que está guardado para transformar o que somos em algo melhor" - Zelinda Orlandi Hypolito.

Qual é a importância do autoconhecimento nos dias de hoje? E em que isso se relaciona à magia?

Eu já falei pra vocês lá atrás que pra mim magia é um ato de Vontade, é transformar algo em algo que desejamos, algo melhor. Nós não conseguiremos fazer nada se não buscarmos primeiro a nós mesmos, aqui dentro, dentro de nós. Na nossa centelha divina está tudo o que necessitamos fazer. Todo estudo, todo trabalho, toda experiência é para despertar e criar a conexão com este nosso eu maior.


Por que é importante o autoconhecimento? Porque a busca deste ponto de ligação é a busca de acessar tudo o que já temos aqui guardado. E isto é magia. É buscar o que está guardado para transformar o que somos em algo melhor para nós e para todos que estão aqui ao nosso lado de alguma maneira.


Há quantos anos vocês dedicam tempo e energia a esses projetos que trabalham com o místico e o sagrado? Por que decidiram abandonar suas profissões tradicionais para se dedicar a esses conhecimentos que, em nossa sociedade, parecem estar relegados a um segundo plano?

Há quantos anos? Desde que eu nasci. Desde que meu marido nasceu. Meu marido nasceu num lar eminentemente espírita. Eu nasci, também, em um lar eminentemente espírita. Nós dois fomos criados para algo nesta linha, a linha da espiritualidade, isto era valorizado em nossos lares. Então, quanto tempo? A vida toda.


E quanto nós nos dedicamos? Atualmente, totalmente a isso. Já houve época em que nós trabalhávamos e nem tudo era dedicado a este lado, mas...


Bom, eu vou contar uma história. Nós sempre, sempre, sempre nos dedicamos a esta área, nunca deixamos de nos dedicar. Mas o Arsenio era engenheiro, e eu, psicóloga. Um dia, eu não me lembro em qual dos estudos a gente estava, eu sei que me deu uns cinco minutos, eu cheguei em casa do consultório, peguei a prancheta do Arsenio e desmontei.


Zelinda e Arsenio, seu marido


O Arseninho chegou, olhou pra mim e disse: “O que é isso?”. E eu disse assim: “Eu desmontei a sua prancheta. Eu acho que agora está na hora da gente começar um novo caminho e a gente tem que ter coragem pra isso. Sobrevivência, graças a deus, nós temos. Então, agora vamos fazer o que a gente veio fazer”. A gente tem uma cartinha do Chico [Xavier] quando a gente ficou noivo na casa dele, que conta a nossa vida de hoje em dia.


Então, eu disse para o Arsenio: “Acabou. Termina essa obra que você está fazendo que agora a gente vai se dedicar a um outro lado, ao lado que a gente sempre quis”. E o Arsenio encerrou, realmente, a carreira de engenheiro. Eu transformei a minha de psicóloga, porque eu comecei a usar outros métodos e outras experiências. Mas o Arsenio realmente rasgou tudo. Ele jogou tudo fora. E tudo aquilo que a gente tinha estudado nós transformamos no que hoje é o Imagick, algo para desenvolver a mente das pessoas, abrir o coração delas e fazer o possível para que a gente possa transformar algo bom, uma pessoa boa, em uma pessoa muito melhor.



"A gente tem uma cartinha do Chico [Xavier] quando a gente ficou noivo na casa dele, que conta a nossa vida de hoje em dia" - Zelinda Orlandi Hypolito.

Para você, qual é a nossa missão enquanto humanos? Somos sementes de quê?

Meus amores, eu acho que nós somos uma grande experiência. Nós estamos aqui para crescer, aprender e levar isto que é nossa experiência ao Grande Pai. Eu tenho uma maneira um pouquinho estranha de pensar em deus. Imagine um grande computador com várias telinhas. Essas telinhas, cada uma delas, juntadas a uma grande rede. Para mim, nós somos parte de tudo isso. Cada experiência nossa aumenta a experiência divina. Cada ato nosso corrobora o todo. Eu acredito que nós somos uma parte do todo. “Deuses somos e disso nos esquecemos”, alguém conhece essa frase? É basicamente isso. Nós somos a divindades experimentando a matéria e tentando viver da melhor maneira dentro dela, compreendendo esta grande explosão deste grande Big Bang.


Meus queridos, nós somos sementes das estrelas, eu entendo assim. Por isso que eu nos considero como aquelas bruxas que conhecem os mistérios das estrelas. Nós somos parte desse grande universo: o micro no macro. Assim eu compreendo. Assim eu tento viver. Assim eu tento passar essa nossa experiência.


Poderia comentar um pouco sobre o papel dos 5 sentidos sobre nossas percepções da vida e a necessidade de apurá-los? Por sinal, teria alguma dica de práticas que podemos buscar para aprimorar os sentidos?

Meus queridos, agora nós entramos numa outra área. Eu faço parte de um grupo que se chama RSE, tem aqui e na Argentina. Chama-se Reequilíbrio Somato Emocional. Desde o começo quase do Reequilíbrio, eu estou junto com eles. Carlos Barreto e sua instituição de fisioterapia. Faz parte hoje em dia de uma pós-graduação, o Reequilíbrio do Corpo e da Emoção.


A gente estuda que o nosso corpo é basicamente a nossa ligação com a Terra, através dele nós temos os nossos sentidos. Existe um filme sobre os anjos, eu esqueci o nome do filme agora, que ele fala sobre essa necessidade dessa experiência dos anjos. A experiência da matéria. E é uma coisa muito interessante.


Porque através das nossas experiências nós tocamos também o divino. Você já imaginou se a gente não tivesse ouvidos? Se nossos ouvidos não tivessem toda a capacidade de escutar? Já imaginou o que seria não conhecer a música, que nos eleva, nos reconecta ao Grande Pai? Já imaginou o que seria não ter o paladar? Uau! Cada coisa gostosa a se experimentar! O paladar nos eleva, nos deixa felizes, e essa felicidade nutre e nos conecta à grande consciência cósmica.


Você já imaginou não ter a visão? Não enxergar? Não ver as maravilhas do mundo? Quando vou pra São Tomé, lá para a Cidade das Estrelas, e olho aquela cachoeira, e olho o céu, e olho as estrelas, aquilo me eleva. Aquilo me torna parte de um grande segredo.

Você já imaginou eu não poder tocar as coisas? Sentir a sensação da minha pele sendo agradada. Você já sentiu, você sabe o que é isso. Aquilo também nos conecta.


Sabe, gente? A gente esquece que a gente tem um corpo. Observe esse nosso corpo. É através dele que nós buscamos as sensações mais agradáveis, também são as difíceis que nos ensinam. Mas através dos nossos sentidos nós alcançamos algo muito lindo se quisermos.


Agora, por que você não treina cada parte do seu corpo através dos seus sentidos? Busque. Feche seus olhos, imagine aquele prato mais gostoso que você já experimentou e sinta a sua boca úmida. O seu corpo responde aos seus pensamentos. As suas sensações transformam a sua maneira de viver. Mas precisamos tomar cuidado, porque elas são tão boas que as vezes nos escravizam. É um treinamento eterno. Prazer e dor através dos sentidos.

Uma coisa importante é ficar sempre em tempo presente. Tempo presente é o aqui e o agora. Não tem passado, não tem futuro. O passado serve apenas para trazer todo o aprendizado, e o futuro, para termos uma direção. Mas eles não estão aqui, só o presente está.


Então, tente ficar em tempo presente. Sente num local, sinta seus pés no chão. Observe como estão os seus olhos. Soltos ou apertados tentando enxergar algo? Sinta o seu olfato. O olfato é a primeira sensação de afeto. Através do olfato nós temos as lembranças, as recordações emocionais.


Tente escutar. O que você está escutando agora? O que vem aos seus ouvidos? Primeira e última coisas?


Minhas crianças, se vocês estiverem atentos, vocês perceberão um mundo maravilhoso. Atentos aos sentidos. Atentos, as sensações se transformam em percepções deste nosso mundo.


Saiam. Coloquem as suas mãos em várias superfícies. E descreva para você como é essa superfície.


Saia. Olhe para o mundo e escolha uma cor. Vermelha? Roxa? Azul? Observe e vá descobrindo essas cores na natureza, no mundo. É uma maneira de treinar a sua mente, de treinar a sua visão, de dar direção a ela.


Escute uma música que você gosta. Perceba as sensações em seu corpo. Escute uma que você odeia, perceba as sensações em seu corpo.


Encontre maneiras de desenvolver esses seus sentidos, não deixe que eles sejam abafados pelo tempo, pela dificuldade, pela correria da nossa vida. Desfrutem, e o mundo vai ser muito mais bonito.


Quais lições a bruxaria pode ensinar para as pessoas no dia a dia? Poderia citar uma de principal importância?

Para mim, a principal lição que a bruxaria ensina é respeitar a natureza, o que infelizmente não tem acontecido muito nos dias de hoje. A bruxa que é bruxa respeita e ama a natureza, ela não faz nada que possa prejudicar, nada que possa atrapalhar o desenvolvimento e o crescimento.


A bruxa toma conta da natureza e a utiliza da melhor maneira possível.


Eu acho que esse é o nosso principal papel. Mostrar ao mundo que, se não houver natureza, não esqueçam: nós somos parte dela, nós também não existiríamos.


Qual é a principal importância? Tudo na natureza é importante. Desde o nascimento de uma planta. Desde o nascimento de um animal. Desde a vida que existe dentro do mar, dentro das águas até nós, os humanos, que infelizmente não a estamos tratando como deveríamos. Porque a medida que a gente trata mal a natureza, estamos tratando mal a nós mesmos.


Na mesma medida que trataremos a ela, ela nos tratará. Então, meus amores, qual é a maior lição que a bruxaria traz à humanidade? Respeitem, amem e utilizem a natureza da melhor maneira que vocês puderem. Respeito e amor, esta é a regra.


Quais são seus novos projetos? Pode contar um pouco sobre os cursos que oferece, como o Despertar da Bruxa? Vem algum livro novo por aí?

Novos projetos? Eu acho que eu coloquei meus projetos já em movimento. Agora, o que eu tenho feito é gravar para o YouTube, para passar de uma outra maneira para as pessoas. Eu acho livros fantásticos, acredito que nada substitui o livro. Mas, também, estou no mundo atual. Sabe, minha gente, quando eu nasci não tinha televisão. Não tinha, a primeira televisão eu tinha cinco anos, e era rara.


E, hoje em dia, eu vejo essa tecnologia maravilhosa que existe e, como tudo, essa tecnologia tem os dois lados: o lado fantástico e o lado nefasto. O lado fantástico é aquele que une as pessoas e o lado nefasto é aquele que separa as pessoas. É estranho pensar assim, né? Mas é verdade. Para pra pensar.


De qualquer maneira, nós estamos numa nova tecnologia, num novo mundo, num mundo completamente diferente daquele que eu nasci. E eu acho que qualquer pessoa que tenha um pouco de inteligência tem que se adaptar a ele. E é o que eu estou fazendo.


Eu utilizo todos esses meios de comunicação. E é este o meu novo projeto. Estou falando, meu filho grava, ele é melhor que eu claro. Então, ele grava pra mim os programas curtos e pequenos porque eu sei que o mundo tem pressa hoje em dia.

E são as dicas, e passo pras pessoas as coisas que eu vivenciei. Este é o meu novo projeto.


Os cursos do Imagick são todos dedicados para que você consiga usar melhor esta mente que você tem, e que ela seja a seu favor e não contra. Existem os rituais que fazemos, esses são outro tipo.


Mas os cursos mesmo são para treinar nossa mente para ela ser nossa aliada e não nossa inimiga.


É a melhor maneira de você viver nessa terra e contribuir para o crescimento dessa nossa humanidade.


Gostaria de falar algo mais?

Eu acho que eu deixei aqui a mensagem do que nós fazemos, do que nós sentimos e como nós agimos. Eu gostaria que todos no mundo tivessem a oportunidade de experimentar, aprender e crescer nesta nossa etapa de evolução, a matéria. E eu espero que isso seja possível. Aliás, mais do que espero, eu acredito, porque não acho que nada da Criação seja feito à toa.


APROFUNDE A LEITURA


Grimório da Grande Gaya

História biográfica da trajetória de Zelinda e das descobertas de alguns de seus estudos místicos como o dos sentidos, astrologia e cabalísticos. O livro traz o subtítulo “o que toda a bruxa deveria saber”.






O Caminho da Rosa Dourada

Um romance com treinamentos para se tornar um “fazedor de milagres”. Escrito por Zelinda e Arsenio.








Síntese Mágicka

As bases da ciência do mentalismo de uma maneira fácil e segura. Escrito por Zelinda e Arsenio.








Os livros estão à venda no site www.imagick.com.br

Acesse o canal do Instituto Imagick no YouTube para mais conteúdos sobre o tema.


Comments


bottom of page